A
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE divulgou
relatório no qual aponta avanços e necessidades de adaptação do sistema de
ensino brasileiro visando reduzir as desigualdades de acesso escolar em todos
os níveis da educação. Considera que apesar da melhoria de alguns medidores
educacionais, há a necessidade de superar desafios cada vez maiores. Patrícia
Mota Guedes, gerente de pesquisa e desenvolvimento do Itaú Social acentua que
as melhorias obtidas no ensino básico e de alguns medidores da educação
acobertam as desigualdades cada vez mais crescentes, principalmente neste
momento de pandemia, onde essas desigualdades se apresentam como
multidimensionais, ocorrendo por meio socioeconômico, por raça, gênero,
localização geográfica etc. "O relatório é categórico ao dizer que o Brasil terá sérias dificuldades de avançar se não colocar luz na
desigualdade da educação. Com a pandemia, este tema ganhou
tração, mas é importante que a OCDE diga que ou Brasil encara o problema de frente e pensa em políticas para
superá-lo ou terá dificuldade em melhorar a qualidade da educação.
A desigualdade é muito alta em comparação aos outros países", afirma Olavo Nogueira
Filho, diretor-executivo da Todos pela Educação.
Patrícia Mota comenta ainda que o relatório cita avanços com a incorporação da educação pré-escolar no ensino básico, mas existem desafios relevantes pela frente considerando as desigualdades no acesso às creches das crianças de 0 a 3 anos, principalmente das crianças de famílias menos abastecidas financeiramente. "Temos evidências do papel da educação infantil de qualidade para reduzir desigualdade. A criança já entra nos anos iniciais em desenvolvimento, não só para alfabetização do mundo letrado, mas também a socialização e desenvolvimento de outras competências importantes. Isso ajuda a reduzir desigualdades de crianças com pais menos escolarizados", pontua Patrícia.
O relatório aponta dente
outros problemas, as seguintes desigualdades:
a)
Acesso ao ensino médio: Em
2018, 76% dos brancos haviam concluído o ensino médio enquanto a população de
negros e pardos, apenas 60%.
b)
Acesso ao ensino superior: Em
2018, 36% dos brancos com idade entre 18 e 24 anos estavam matriculados no
ensino superior ou já haviam concluído; entre os negros e pardos esse índice
foi de 18%.
c)
Exclusão: Em
2019, 17% dos brancos não estudavam nem trabalhavam; os negros e pardos eram
25%
d)
Abandono escolar e mercado de trabalho: De
acordo com o relatório da OCDE, os dados levantados sugerem que a desigualdade
leva negros pardos a deixarem a escola para trabalhar.
Dentre as políticas que
mereceram destaque no relatório da OCDE estão o Bolsa Família, o sistema de
cotas e o PROUNI, os quais contribuem para reduzir as desigualdades A
Organização sugere 10 itens para melhorar a educação no Brasil:
1 – Investimentos na educação:
Proteção aos recursos e investimentos na educação e vincular resultados à
qualidade do ensino.
2 – Reavaliar prioridades: Cita
a necessidade de avaliar melhor o orçamento, priorizando evitar gastos com
reprovações e aumento de taxas
3 - Ações para mitigar impacto da pandemia: O relatório aponta a necessidade de
investimentos em todos os níveis da educação, especialmente no foco aos alunos
de maior vulnerabilidade.
4 - Melhoria para carreira de
professores: Para a OCDE o docente é o foco da educação, necessitando de
investimento especiais visando sua qualificação crescente.
5 - Práticas
de ensino: Introdução de novas abordagens para melhorar a aprendizagem
dos alunos. Segundo o relatório, 75% dos professores não fomentam feedback de
melhores práticas outros profissionais da educação para melhorar seu
conhecimento docente.
6 - Clima escolar:
No Brasil os casos de bullying, indisciplina e solidão nas
escolas do Brasil ocorriam acima da média dos países da OCDE.
Esse dado reforça a necessidade de reforçar a atuação dos gestores escolares na
importância de criar um clima favorável no ambiente escolar.
7 - Gestão escolar: Recomendações
de melhorias na administração e liderança escolar.
8 - Tornar a educação relevante: o relatório sugere ações no
ensino médio com engajamento da iniciativa privada.
9 - Apoiar os alunos em
risco: a OCDE recomenda ações no
ensino infantil e alunos do 1º ao 5º ano visando evitar evasão escolar.
10 - Direcionar recursos: Utilizar melhor os investimentos com recursos para regiões, escolas e
alunos com maior necessidade.
Geraldo
Ferreira da Paixão
Engenheiro e
professor