Reporto-me ao
ano de 1960, para contar a história de um povo heroico e retumbante. Ainda
menino, acompanhava com fervor pelo rádio, juntamente com meus pais a campanha
política para a escolha do novo presidente da república. Era uma campanha
fervorosa, com participação ativa dos eleitores que faziam questão de
participar do pleito. O voto era sagrado, e o povo não abria mão do seu direito
de poder escolher seu candidato. Era comum os atritos políticos devido às
discordância pelo voto. Lembro, com certa alegria, que meu pai, assim
como a maioria dos brasileiros sentia orgulho de ir às urnas escolher seus
representantes. Hoje, se perguntarmos ao eleitor qual a razão que o levaria às
urnas, a maioria diria que não vai votar, ou que vai anular seu voto, porque
não conhece um candidato com ficha limpa, capaz de representá-lo com dignidade
e respeito. Essa é a imagem real da maioria dos políticos brasileiros
.
De volta a 1960, naquela
época vivíamos num período de transição política, no qual havia um certo receio
dos militares da entrada do comunismo no Brasil, e assim, o processo eleitoral
transcorria com certo nervosismo, uma vez que, dentre os candidatos havia
alguns com tendência de esquerda, e forte combate do regime militar. Meu pai,
fazia campanha na época para o Marechal Lott, mas quem se elegeu foi Jânio
Quadros. Logo após a sua posse, o presidente eleito implementou um política econômica
de austeridade, visando reduzir os índices inflacionários. Os resultados
entretanto, não foram satisfatórios e com isso o governo foi perdendo
credibilidade. Nas relações externas, Jânio implementou uma política de
reaproximação com os países socialistas, reestabelecendo as relações diplomáticas
com a União soviética(URSS). Posteriormente, condecorou “Che” Guevara e o
cosmonauta soviético Yuri Gagarin, com a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul e
recebeu no Brasil o ditador cubano Fidel Castro. Essa aproximação com os
socialistas, não foi bem interpretada pela sociedade brasileira e pelo alto
comando das forças armadas, gerando um desconforto que acabou levando o governo
à renúncia sete meses depois de sua posse. Em seu lugar, assumiu o
vice-presidente João Goulart, o Jango, que governou até 31 de março de 1964,
deposto pelo golpe militar
.
Cinquenta e oito anos depois
da eleição de Jânio Quadros, verifica-se que as coisas não mudaram muito em
relação àquela época. Numa rápida reflexão sobre a ação das forças armadas como
instituição reguladora dos direitos constitucionais, é possível conferir essa
atribuição para o ambiente de tensão que paira no país. Naquele tempo, entendeu
assim, o alto comando militar, que seria necessário uma ação pontual por um
determinado tempo, para que os políticos brasileiros pudessem se reorganizar, e
assumir novamente o comando da nação. Isso durou 21 anos. Hoje, passamos por
uma crise política, econômica e social com algumas características muito
parecidas,
É sabido que desde a eleição
do presidente Lula, até o impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil manteve boas
relações diplomáticas e comerciais com os países considerados socialistas. Com
o governo Temer, a política econômica interna e externa, bem como as relações
com os países socialistas, veem sendo conduzidas de uma forma integrada. O
grande problema, é a corrupção, que ainda levará muita gente pra cadeia. Se na
época, uma intervenção militar foi necessária para resguardar os direitos do
povo brasileiro, esperamos que hoje, as instituições políticas, e de segurança
nacional, como Ministério Público, Policia Federal, Lava-Jato e outras, atuem
de tal forma a impedir que isso seja necessário.
Geraldo Ferreira da Paixão
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geraldoferreiradapaixao@gmail.com