Em 05/07/2017 publiquei aqui uma matéria com o título “Agressão de Docente no RJ – Culpado ou
Inocente?” na qual abordei a ação do professor de geografia Marcelo Souza
Leite no Rio de Janeiro de atirar um apagador numa menina de 11 anos, após
tentativa sem êxito de obter o silêncio da turma para a aula. O episódio tomou
conta da mídia nacional, e os pais da menina, é claro, abriram um inquérito
policial para averiguação do fato e elucidação dos motivos que levou o docente
a tomar tal atitude. Neste caso, a falta de diálogo prevaleceu na sala, o que não
justifica a atitude impensada do docente.
Acompanhei com muita
tristeza na mídia nacional a notícia da agressão que sofreu a professora Márcia
Friggi, segunda feira, dia 21/08/17, numa Escola de Educação de Jovens e Adultos
(EJA) em Indaial, Santa Catariana. Um adolescente de 15 anos a agrediu na sala
com palavra de baixo calão e, posteriormente, na presença da direção com socos
no rosto que a deixaram completamente desfigurada. Em seu texto no Facebook, a
professora citou que estava “dilacerada” pela ação hostil do adolescente, pois
sabe que a atitude do aluno não foi a primeira, nem será a última e que tal
fato representa o angustia dos professores em geral, pelo abandono dos valores
do docente nas instituições de ensino no Brasil.
Sou professor da rede
particular de ensino atuando no Vale do Aço desde 1985 em instituições de nível
técnico e universitário. Assim como muitos docentes que atuam no mercado há
mais tempo, passei por situações constrangedoras envolvendo alunos rebeldes em
sala de aula, e a ação do professor nesta hora deve ser de absoluto diálogo, de
tal forma a manter o melhor relacionamento possível não só com os discentes, mas
também com os demais envolvidos como diretores e pais de alunos.
Para que o relacionamento
dos envolvidos na educação tenha êxito, isto é, sejam alcançados os objetivos
na formação do cidadão brasileiro, é necessário o envolvimento de todos os
responsáveis na cadeia de ensino, começando pelo governo federal com a adoção
de políticas públicas adequadas, investimentos compatíveis e delegação de
responsabilidades para educadores e educandos, de tal forma a tornar o sistema compacto
e de referência. Apesar das mudanças que serão introduzidas a partir de 2018 no
ensino médio e técnico, torna-se necessário também a atualização dos demais
níveis, começando pela educação básica (infantil, fundamental e médio) Educação
de Jovens e Adultos (EJA), ensino técnico e ensino superior.
A valorização do professor é
uma das medidas indispensáveis nessa mudança estrutural do ensino, passando não
só pela sua melhor qualificação profissional, mas também pela remuneração do
seu trabalho, hoje com teto mínimo de R$ 2.298,80 para 40 horas semanais de
aula no ensino básico e técnico, o que equivale a 2,453 salários mínimos.
Trata-se de uma remuneração vergonhosa, inábil para a sobrevivência de um
profissional com tamanha responsabilidade. As escolas precisam de docentes com
predisposição para a sala, desprovidos de preocupações às quais podem
interferir no seu desempenho, e conduzir o país a uma derrocada na área da
educação em todos os seus níveis. Daí a necessidade de uma remuneração justa
que possa dar ao docente a tranquilidade para o trabalho, sendo essa, sem
dúvida, uma das razões que podem levar a sala de aula a um lamentável acidente
como os descritos anteriormente.
Geraldo Ferreira da Paixão
E-mail: Geraldoferreiradapaixao@gmail.com