O futebol brasileiro, há muitos anos passa
por uma fase difícil, prá não dizer dramática. Alguns clubes alheios aos
problemas sociais, econômicos e culturais de seus empregados, incluindo aí os
atletas, não sabem sequer as novidades que a Lei Pelé introduziu no futebol a
partir de 24 de março de 1998, quando foi sancionada pelo então presidente FHC.
Muitos já abriram a cartilha porquê encontraram alguma barreira para seus
interesses; outros, sequer a quiseram conhecer. Foi no entanto a partir desta
Lei que o futebol brasileiro mudou, orientado pelos artigos que regem os
direitos e deveres daqueles que militam no esporte mais popular do Brasil,
especialmente os diretores de clubes, maestros responsáveis pelo rico cenário
envolvido.
A exemplo das demais áreas de
atividades, o futebol também está cheio de corrupção, tem gente ganhando muito
dinheiro com dinheiro com o dinheiro alheio. É necessário passar um pente fino,
e reter na peneira aqueles que tem mais gordura. Aí entretanto, temos um problema
sério: a impunidade. Quando há uma ameaça em qualquer área, levanta-se
imediatamente um grande número de pessoas contrário à idéia. Na verdade,
ninguém quer se arriscar, pois sabe que qualquer investigação neste país, seja
no futebol ou não, pode trazer à tona os “podres” de muita gente,
principalmente daqueles que têm o “rabo preso”, e não podem se expor, deixando
à mostra sua personalidade. Se perguntarmos a qualquer brasileiro, este será
capaz de enumerar vários nomes que deveriam estar na cadeia, mas estão aí,
livres, como se nada tivesse acontecido.
Com a Lei Pelé, veio aquele alvoroço
todo, denúncias de corrupção, CPI’S, muita transação de jogadores, para
finalmente alcançarmos o estágio atual da grande maioria dos ex-grandes clubes
brasileiros: falência. Alguns clubes sequer podiam pagar seus funcionários,
pois a fonte onde poucos ganhavam muito, parecia estar secando. Esperava-se
então com a nova Lei que o futebol brasileiro tivesse uma reforma séria, capaz
de moralizar o esporte bretão e eliminar de vez os especuladores, ou melhor, os
exploradores dos clubes. De lá pra cá o que se vê de novo e prático é a
aplicação da lei do passe que regulamentou as transações de jogadores
brasileiros no mercado nacional e internacional. Com relação à corrupção e
utilização indevida da coisa imprópria, são ações que continuam campeando em
todo o território nacional e internacional, prevalecendo o espírito egoísta e
aproveitador de uma grande maioria de diretores, que não são capazes de
enxergar no torcedor a fonte salvadora dos clubes.
O que se ouve nos bastidores é que a
Lei Pelé acabou com o futebol brasileiro. Na verdade quando se fala em mudança
de qualquer coisa, seja uma rotina ou procedimento, é gerada em contrapartida
uma enxurrada de idéias contrárias; na prática, esta é uma reação “normal”, que
precisa ser combatida; há que se ouvir e valorizar as novas idéias, pois sem
elas é impossível alcançar o nível de conhecimento e desenvolvimento
necessários
No âmbito da
qualidade, sabe-se que para se obter sucesso em qualquer atividade é necessário
em primeiro lugar identificar e reconhecer o nosso cliente em potencial, pois
sabe-se que ele é o carro chefe do negócio e tudo que fizermos tem que estar
voltado para atender a vontade e os padrões exigidos por ele. Porquê no futebol
não se aplica este conceito? Não é compreensível o desrespeito dos atuais
dirigentes do futebol brasileiro ao maior cliente, aquele que apóia e dá todo o
suporte para o engrandecimento de qualquer clube de futebol: o torcedor. O que
se tem visto são ações impensadas, próprias daqueles que priorizam o próprio
ego, esquecendo por completo da máxima empresarial: respeito ao cliente em
primeiro lugar. Estamos assistindo pela TV, quase que diariamente, e
aterrorizados, o desrespeito praticado aos torcedores, que ao saírem de casa
com sua família para assistirem uma partida de futebol na expectativa praticar
lazer e ajudar o seu clube de coração, muitas vezes tem retornado a seus lares
com a alma ferida, a dor estampada no rosto, pela perca de um ente querido. O
que é isso? Onde está o respeito ao cliente?
A exemplo do que já está acontecendo
em todas as atividades neste país, os principais dirigentes e gestores do
futebol brasileiro terão que se adaptar às mudanças transitadas, sob pena de
pagar a qualquer momento pelos seus atos, como José Maria Marins, preso na
suíça e José Hawilla, réu confesso. Sob suspeitas temos João Havelange, Ricardo
Teixeira e Del Nero, além de algumas empresas internacionais como a Traffic
Sports International Inc, a Traffic Sport USA e a Klefer Produções e Promoções
Ltda.
O dirigente precisa aprender a
valorizar mais e mais o torcedor que é a própria sobrevivência do clube e,
muitas vezes dá sua vida pelo clube. Futebol é isso. Uma mistura de amor e
ódio, paixão e esperança. Por isso, muitas vezes o torcedor paga por tudo
aquilo que os dirigentes inescrupulosos vem fazendo e acontecendo no futebol
brasileiro. Daí que é indispensável vislumbrar o torcedor como fonte de renda,
aquele que paga o artista pelo espetáculo. Por isso é preciso respeitar o
torcedor e pensar que todo o seu sentimento é pelo clube, não pelo dirigente.
Não basta juntar um amontoado de idéias e jogar no saco. É preciso distinguir o
bom do mal, o alegre do triste, o joio do trigo.
No fundo sabemos ser muito difícil
criar uma consciência eficaz para o futebol brasileiro, mas entendemos e
precisamos crer que a viagem ora empreendida no espaço e no tempo nos levará ao
melhor caminho, bastando para isso, a tomada de decisões corretas, punindo a
todos que tornaram e torna o futebol brasileiro um mar de lama. Assim como na
política com a Lava Jato, espero que possamos fazer também no futebol; alguns
já estão na cadeia, outros irão. As CPI’S instaladas nascem e acabam, mas ainda
assim fica a esperança que a impunidade não será eterna, o imoral será moralizado,
os ratos serão presos. Isso vai acontecer. É só esperar para ver.
Geraldo
Ferreira da Paixão
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geraldoferreiradapaixao@gmail.com