Uma
análise fria dos problemas atuais leva-nos a um retrato sombrio da conjuntura
do planeta. Guerra, corrupção, ações terroristas, prostituição infantil, FEBEM,
MST, trabalho infantil, egoísmo, abuso de poder, falta de educação, libertinagem,
desemprego e fome. Antes de expressar nossa opinião sobre o que está certo ou
errado, é bom lembrar que é melhor ouvir do que falar. Pra isso, temos dois
ouvidos e uma boca.
Estamos
mergulhados num oceano no qual as opções não se vislumbram com tanta facilidade
e, não se distinguem saídas que de fato possam trazer resultados. Dizem que a
inflação é quase zero - será que é verdade? Como se explica que o povo
brasileiro que deveria estar mais rico está cada vez mais pobre, com salário de
fome, incapaz de manter nas latas o suficiente para alimentação dos filhos?
Para a saúde nem se fala – brasileiro não usa remédios, não adoece. Aqui não há
preocupação com a educação, não há espaços para o sonho da casa própria, do
carro, de uma vida digna. E o nosso patrimônio? Ele é cada vez menor, mas nossa
dívida externa cada vez maior.
Que
modelo é esse que nos torna cada vez mais pobres, desfaz de nossas empresas e
patrimônio como um pássaro que se esvai entre os dedos? A corrupção campeia
livre e desimpedida e o povo assiste estarrecido a impunidade e comparsidade
daqueles que deveriam dar o bom e maior exemplo. Para onde vai o nosso
dinheiro? Um dia talvez possamos olhar para nossos filhos, bater no peito e
dizer todas as verdades que nunca ouvimos. Se o país está subindo, então
estamos descendo.
Na década de oitenta, lembro-me bem, entrei
numa concessionária e saí rodando num carro zero, comprado em 24 meses, é
verdade, mas paguei com o meu salário. Poucos, talvez ninguém, seria hoje capaz
de tal façanha. Na verdade estamos caminhando para um modelo de pobreza no qual
o menos favorecido vai perdendo sua identidade e se tornando um desesperado -
sua classe é cada vez maior, alarmando a todos e engrossando cada vez mais esta
parcela da população brasileira.
A
classe média por sua vez está hoje dividida em três: média alta, média e média
baixa. A riqueza brasileira, esta sim, é para uma minoria detentora de
patrimônio cada vez maior, grandes latifundiários muitos deles responsáveis por
decisões que emanam do povo. Resta um consolo: somos um povo trabalhador, capaz
de superar adversidades e esperar pelo momento adequado. Há que se mudar a
cultura e muitos castelos hão de sucumbir ao nosso trabalho e inteligência.
Homens sérios também existem, que trabalham
sol a sol numa labuta sem fim, mesmo sabendo que muito pouco, talvez quase nada
lhes sobrará do que plantaram. È a doação espontânea, sem mácula, marcando o
rosto rubro, quase sem cor do trabalhador brasileiro. Enquanto muitos de nós, pobres rasteiros da
luxuria e incompreensão suplicamos por um pedaço de vida, alguns têm vida
sobrando, vida morta, sem sentimentos, fria, só deles.
O que sobra na
vida tem que ser doado, repartido, dividido com os que necessitam. È aí que
reside o grande segredo da convivência humana, capaz de mudar os preconceitos e
educar o mundo. Num país de alterações
políticas e sociais tão profundas como as que vivemos, é quase impossível
prejulgar ações e atitudes daqueles que se dizem capazes de defender o
interesse da maioria. È sabido entretanto, que para sermos livres de ação e
pensamento precisamos enveredar por caminhos muitas vezes indesejáveis. Mas
afinal, se temos que passar por eles... É esperar prá ver.
Obs: Matéria publicada no Jornal Vale do Aço de mai/2009
Geraldo Ferreira da Paixão
Engenheiro, professor e pós–graduado em docência do ensino
superior
e-mail: geraldoferreiradapaixao@gmail.com