quarta-feira, 22 de março de 2017

AVALIAÇÃO – INSTRUMENTO DE MEDIDA OU DE RESULTADOS?

O conceito de avaliação, principalmente quando aplicado ao ensino, é de uma forma geral uma busca constante de resultados com os quais ansiamos obter avanço cientifico e cultural de uma teoria, atividade ou ação, capaz de resultar em melhorias tal, que interagindo nos processos, vão gerar um novo conhecimento, uma nova concepção teórica sobre o objeto em estudo. Assim, o conceito de avaliação tem que ser visto pelo educador com certo grau de crítica e discernimento, considerando principalmente alguns fatores como lugar, tempo, como o problema pode ser visto, formação, experiências de vida, crenças, aspectos sociais, políticos, econômicos etc. Segundo DIAS SOBRINHO, “avaliar é uma ação que não admite neutralidade”. Ao questionar, precisamos saber os fundamentos e respostas das questões formuladas, para então fazermos julgamentos dos conhecimentos adquiridos. Deve-se levar em conta que estamos num momento de grandes transformações, e que fatores como solidariedade, respeito, compreensão e outros, são tabus que precisam ser quebrados.
Há um conceito errôneo entre os educadores que utilizam o processo avaliativo como uma forma de punir os discentes com resultados insatisfatórios. Ora, se isso fosse uma prática adequada para julgamentos, o que seria do futuro destes alunos? E para a escola? Por isso, cabe uma reflexão em todos estes casos. É preciso utilizar o resultado dessas avaliações e, aprimorar sistemas, métodos, didáticas, convivência escola comunidade, melhoria de qualificação do corpo docente e várias atividades afins, capaz de reverter o quadro de avaliação desses alunos. Para LUCKESI, “avaliar é um ato pelo qual, através de uma disposição acolhedora, qualificamos alguma coisa (objeto, ação ou pessoa), tendo em vista, de alguma forma, tomar uma decisão sobre ela”.
Historicamente, o conceito de avaliação pode ser dividido em quatro gerações: a primeira, predominantemente técnica, não separa avaliação de medida. A segunda consiste na aplicação de testes para verificação do alcance dos objetivos. A terceira é marcada pelos valores específicos atribuídos pelos avaliadores. A quarta geração passa a ser democrática, com ênfase na negociação como elemento de ligação entre avaliador e avaliando, capaz de gerar maior criatividade e desenvolver o espírito cientifico, proporcionando maior participação de todos. 
Muitos profissionais da área de ensino confundem verificação com avaliação. A verificação consiste em ver se o que se fez está correto, e pronto. Encerra-se aí o ciclo de ação. Na avaliação, atribui-se um valor àquilo que se fez, devendo a partir daí atribuir uma ação prática. Deve-se então o educador se preocupar, com o que fazer a partir da avaliação, uma vez que em geral há uma acomodação. É necessário fazer da teoria a prática, focando sempre a busca dos resultados que a avaliação refletiu. Diante deste quadro, devemos enquanto educadores, estar continuamente refletindo acerca das questões relativas ao valor da avaliação para o ensino.
Em síntese, não podemos subestimar os valores que a avaliação apresenta para demonstrar o rendimento do aprendizado desejado, entretanto, também não podemos deixar de valorizar a importância das avaliações como feedback para o desenvolvimento do ensino, permitindo àqueles que comandam, promover melhorias no processo. Outro fator que precisa ser considerado relativamente à avaliação, é o retorno que a instituição dá à sociedade a partir dos resultados. Paralelamente, enquanto se vale destes resultados para o aprimoramento do ensino e da aprendizagem, promovendo o crescimento intelectual do corpo docente e discente, a instituição repassa à sociedade essas melhorias, através da prestação de serviços de ensino cada vez mais qualificados e diversificados, tornando co-responsável pela educação e participação do cunho científico dos cidadãos.
Cabe refletir um pouco mais sobre as funções da avaliação. Resultados como, rendimento escolar, qualidade do ensino, progresso escolar, qualificação dos professores etc, não devem segundo SACRISTÁN & GÓMES, serem atribuídos à avaliação, pois estes são prévia e sistematicamente atribuídos à instituição. Vale acrescentar, porém, o lado social da avaliação, não sendo uma tarefa fácil para o educador, nem para a sociedade distinguir o bom do ruim na avaliação, precisando para isso, de uma alta dose de conhecimentos sobre este processo. Além disso, o poder do professor na sala de aula, dá ao docente uma certa autonomia que na maioria das vezes pode denegrir seu trabalho. Utilizar a avaliação para certas ações como suspensão, enquadramento a procedimentos, normas etc, pode dificultar o processo de aprendizagem e desenvolvimento escolar. Cabe ao corpo docente, aplicar com eficiência esses conhecimentos, tornando o resultados das avaliações, como já dito, uma forma de fomentar o crescimento do processo educativo.
Alguns autores afirmam estar havendo uma inversão de valores, uma vez que os professores supervalorizam as avaliações levando-se em conta somente o resultado daquilo que os alunos demonstraram ter aprendido durante o processo. Segundo estes mesmos autores, as avaliações devem motivar os alunos à criatividade, estimulando-os a inovar e desenvolver o senso crítico. O processo avaliativo deve buscar ao longo do período credenciar o aluno a absolver cada vez mais conhecimentos. Cabe ao professor, toda vez que ocorrer um desvio, aplicar ações corretivas ao longo do processo, que possam corrigir no aluno, as deficiências apresentadas.
Na dicotomia ensinar x avaliar, verificamos que falta aos professores mais apoio para acesso a novos conhecimentos, à eliminação de certos paradigmas capazes de contribuir para o aprimoramento constante da prática educativa. Esta falta de incentivo dos governantes, provoca no professor um certo desconforto na prática de sua profissão, tornando-o na maioria das vezes inoperante, incapaz e desmotivado. O bom professor entretanto, fomenta o saber e, sabe que não pode ficar estagnado perante a situação; deseja vislumbrar novos conhecimentos, incomoda com o estado estagnado, a falta de iniciativas que identifiquem novos horizontes para o desenvolvimento da ciência e pesquisa.
 Essa inquietação do educador, mostra a grande necessidade de buscarmos, a cada dia, uma forma de eqüalizar as políticas educacionais evidenciando um novo projeto para o ensino e aprendizagem. Esta ânsia pelo saber, mostra um outro lado do professor – o comportamental. Segundo TYLER o comportamento dos alunos deve ser o fundamento da avaliação, pois, o que se pretende em educação é, exatamente, mudar o comportamento das pessoas. A avaliação, sempre foi ao longo da história, um grande um desafio para os educadores. Contrapondo-se à teoria de que avaliar é auferir resultados. HOFFMANN, propõe uma avaliação mediadora, na qual compete ao professor escutar, interrogar e compreender mais o aluno. Na verdade, todas as teorias sobre o assunto, são legítimas e ao contrário do que muitos pensam, precisam ser consideradas, analisadas e delas se extrair máximo, visando exclusivamente a melhoria do processo, qualquer que seja ele.
Considerando todos estes fatores, podemos afirmar que avaliar não é somente um ato para comprovação de rendimento escolar, mas é, principalmente, um roteiro para refletir e planejar melhor a prática didática.
Assim, no processo avaliativo a função do educador é de fundamental importância, pois, vai direcionar uma série de informações diretamente ligadas a todo o processo. A postura do professor deve ser de aplicar o padrão implicitamente alocado no seu conhecimento cientifico, isto é, primeiro ele precisa se auto-avaliar tomando consciência de que está aplicando o melhor para a equipe. A avaliação precisa acompanhar o desenvolvimento do grupo, subsidiando reflexões e criatividades. O educador precisa estar constantemente aberto ao diálogo e se comprometer, bem como toda a equipe com o resultado da aprendizagem.
O que os educadores precisam se conscientizar é que não há mais espaços para as avaliações punitivas, que segregam o aluno por não ter obtido rendimento satisfatório. Ao contrário, cabe em situações desta natureza uma avaliação criteriosa do processo, detetando os desvios e aplicando ações corretivas devidas. Cinco fatores importantes devem ser considerados pelos professores com relação à avaliação:
 - O professor deve alterar seu conceito com relação à avaliação autoritária que o sistema lhe confere, passando a considerá-la como um ponto de reflexão e informação para a melhoria do processo de ensino.
- Compete ao professor rever sua metodologia de trabalho em sala de aula, aplicando técnicas modernas, que geram a participação e criatividade de todos.
- A avaliação deve ser analisada sob o ponto de vista da prática do ensino, devendo o professor fazer as correções devidas durante o processo.
- Os resultados da avaliação não devem ser considerados pelo professor como um monstro, incapaz de ser vencido. O educador em frente a uma situação de dificuldades, deve adotar uma postura diferente, focando sempre a melhoria da aprendizagem.
- É preciso que seja criada uma nova mentalidade em toda a comunidade educativa, no sentido de se obter dos alunos, dos colegas, educadores, dos pais e da sociedade em geral subsídios para o aprimoramento constante da aprendizagem.
A avaliação é, sem dúvida, uma das ferramentas mais importantes do processo ensino-aprendizagem. Ela começa na preparação das grades curriculares, passando pelo planejamento, execução e conclusão do processo.
Uma avaliação consciente, focada nos objetivos gerais da educação, deve começar com a indignação dos professores, ao se sentirem incomodados com os resultados esperados, ou seja, o corpo docente, bem como toda a direção da escola, devem se imbuir do princípio de que a avaliar é um ato constante de planejar para fazer melhor. Não se pode mais conceber a avaliação apenas como um fator de medida, uma vez que, sua dimensão tem uma abrangência linear em todo o processo, não podendo em hipótese alguma os educadores abandonar os vários parâmetros analíticos, capaz de contribuir para o desenvolvimento científico do ensino, sem perder suas particularidades como instrumento mediador da capacidade intelectual dos alunos.
Como vimos, é muito difícil extrairmos uma definição de avaliação. As definições até o momento definidas pelos principais educadores dão uma idéia clara da universalidade do conceito da avaliação, mas, de uma forma geral, todas as definições partem do principio de que a avaliação deve buscar uma solução futura, isto é, seu campo de ação é tão vasto que as conseqüências técnico-científicas, são incomensuráveis, considerando principalmente, que são ainda inimagináveis os resultados a alcançar.
Não podemos utilizar a avaliação como um recurso par a medir o nível de aprendizado dos alunos? Claro que sim! Entretanto, como diz Luckesi, alem do planejamento, o professor deve utilizar a intencionalidade, ou seja, é preciso reconhecer todo o envolvimento do aluno no sentido de desenvolver e perseguir os resultados planejados, quais sejam o melhor aproveitamento escolar possível.
 Daí é muito importante o acompanhamento sistemático do professor, contribuindo com o aluno através de estímulos e confiança, de tal forma a motivá-lo cada vez mais. Isso, entretanto, não se obtém apenas penalizando quando este aufere resultado insatisfatório. Ao contrário, quando isso ocorrer, deverá o professor avaliar a situação do aluno, com um acompanhamento mais próximo, possibilitando o discente recuperar os conteúdos perdidos ao longo do processo.
O planejamento é um estado de espírito, daí que, devem os profissionais do corpo docente se qualificar cada vez mais no desenvolvimento da avaliação, procurando contribuir sempre, ou cada vez mais e melhor com o agrupamento dos alunos de sua equipe, o que fará que, individualmente, e em grupo, todos obtenham resultados mis significativos. A educação não pode ser simplesmente uma fonte de medição do conhecimento, mas precisa antes de tudo, ser o canal propulsor, a engrenagem para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem.  Todos esses fatores e outros também relevantes deverão ser objeto de um bom planejamento, da execução de um plano adequado que atenda os interesses da comunidade, visando o atendimento dos anseios sociais e culturais da sociedade. E não podemos esquecer que ao longo do processo, precisamos estar muito atentos, avaliando individualmente ou em grupo, sem, entretanto abandonar os princípios básicos que fundamentam uma boa avaliação, que busque constantemente a obtenção dos resultados programados. Estes como sabemos, devem espelhar muito mais que uma nota, um determinado nível de conhecimento medido, devem na realidade mostrar aquilo que se planejou , e, ao longo do tempo, ou processo, foi perseguido com perseverança e dedicação por professores e alunos – o resultado.

A nota é um instrumento da avaliação, com a qual medimos um dos fatores importantes do processo. Entretanto, o professor não poderá se limitar a este resultado apenas, para uma tomada de decisão relativamente ao conteúdo de conhecimento adquirido, uma vez que o processo avaliativo, como já foi dito, tem uma abrangência muito grande. Alguns autores são enfáticos, ao dizer que, não há uma forma definitiva para se definir avaliação, e que a maioria das definições até agora conhecidas são construtos mentais, cuja correspondência com alguma realidade não é importante.

Obs: Matéria publicada no Jornal Vale do Aço de out/2007

Geraldo Ferreira da Paixão
Engenheiro, professor e pós–graduado em docência do ensino superior
e-mail: geraldoferreiradapaixao@gmail.com

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